O TEMPO EM UM PROCESSO DE ANÁLISE/PSICOTERAPIA E O TEMPO DAS COISAS DA VIDA.
- Natielly Rocha
- 31 de out. de 2020
- 3 min de leitura
Hoje eu vim falar sobre as diferenças de dois tempos, sendo eles: “O tempo em um processo de análise/psicoterapia e o tempo das coisas da vida.” Esses dois tempos estão constantemente presentes no contexto de quem está em um processo de análise/psicoterapia junto da dinâmica vivencial. Dessa forma, nomearei para este texto a palavra: TEMPO!
Começarei pontuando como percebo o tempo das coisas da vida. Em tempos atuais, falar sobre tempo é algo muito complexo, pois nos deparamos com dizeres marcantes e significativos como: “Tempo é dinheiro e negócio; todo tempo do mundo é sagrado; não posso perder meu tempo com isso ou aquilo; preciso me organizar melhor para que meu tempo seja produtivo e renda mais” e por aí vai.
Mas que tempo é esse? Tempo seria só isso mesmo?
Acredito que esse tempo citado acima se trata do tempo cronológico de: datas, prazos, dias, horas, meses, anos.
Além deste tempo cronológico, existe outro tempo?
Considero que sim! Inclusive menciono para a existência do tempo pessoal.
Sobre o nosso tempo pessoal, ele pode ser assemelhado ou comparado da mesma forma do tempo cronológico?
Partir desses questionamentos e confrontações para pode falar sobre o nosso tempo pessoal, tempo esse que se apresenta de modo bem diferente do qual estamos familiarizados na nossa dinâmica vivencial e de modo geral.
É muito comum que ao iniciar um processo de análise/psicoterapia o paciente estranhe o funcionamento e o processo como um todo. É notável e perceptível do que se trata este estranhamento e incomodo inicial. Esse estranhamento e incômodo se dizem justamente sobre o tempo!
Pois é, estamos tão habituados com o tempo cronológico, com o tempo das coisas da vida, que esquecemos ou nem mesmo nos damos conta de que o nosso tempo pessoal é diferente e ele existe, e é ele que marca o início e o processo de análise/psicoterapia como um todo.
O fato de estarmos vivendo em uma era digital e tecnológica, em que o tempo se apresenta com diversas proporções seja reduzido ou expandido; em que quase tudo se resolve facilmente, estrategicamente, prático, com um click, e que também quase não existe tempo de espera, e quando surge a necessidade de uma espera ou uma análise quer que seja isso já nos traz e nos coloca em um lugar de aflição. Em um processo de análise/psicoterapia o tempo é algo muito importante e levado em consideração. O processo é praticamente movimentado pelo tempo e a forma como vamos nos haver e nos posicionar diante dele. No espaço de análise/psicoterapia, tempo é tempo! Tempo é processo, movimento, construção, desconstrução, paciência, cuidado, atenção, esperas, pausas e recomeços. E o nosso tempo pessoal também é assim! Lembrando que cada sujeito na sua particularidade tem o seu tempo e a sua forma de se haver com este. Ressalto também para a importância de pensarmos que o nosso tempo pessoal conta muito com o movimento. Nesse contexto em especifico, me refiro ao nosso próprio movimento diante do nosso tempo, afinal, tempo é movimento, ele não existe por si só. Ambos caminham lado a lado o nosso movimento pessoal e o nosso tempo.
Quando começamos ou estamos em um processo de análise/psicoterapia, nos damos conta das diferenças desses dois tempos, e consequentemente sentimos um impacto, assustamos e resistimos. E de fato fazendo uma comparação, é bem diferente a forma como o tempo pessoal/análise diverge do tempo das coisas da vida, não é mesmo?! E muitas das vezes não conseguimos sustentar as diferenças desses dois tempos, pois desejamos que o nosso tempo pessoal, seja como o tempo das coisas vida! Que resolvemos e lidamos com as nossas questões de forma prática, rápida, eficaz em um click, e quando percebemos que não se pode ser dessa mesma forma, recuamos. Desejamos desistir mesmo, pois sustentar as diferenças do nosso tempo pessoal e o tempo das coisas da vida, é trabalhoso, custoso e nos demanda muito esforço.
Acredito que um caminho mais leve de sustentar estas diferenças seria apostar no próprio tempo, encarando a forma como ele é, e como ele se apresenta em nossas vidas. Apostando também que os dois tempos: o tempo pessoal e tempo das coisas da vida são possíveis de caminharem e permanecerem juntos. E para isso, nada melhor que utilizarmos características do próprio tempo:
“Tempo leva tempo e tempo é tempo!”
(o tempo precisa existir e fluir)
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